sábado, 12 de julho de 2014

Epigramas de Airton Moraes

Desde 2 de setembro de 2012 até o domingo passado (6-07-14), este blogue publicou a cada fim de semana um pensamento de Airton Leite de Moraes no espaço Epigrama de Domingo. Ele foi o segundo autor local que divulgamos neste gênero poético.

O primeiro foi o cronista Rubens Amador, cuja produção inédita de pensamentos tiramos da gaveta durante um ano e meio, desde janeiro de 2011 até agosto de 2012 (confira os Epigramas de Rubens Amador). Seu estilo visita a filosofia dos valores, a espiritualidade, a sabedoria popular e a psicanálise.

Os epigramas podem ser definidos como um coquetel literário feito com doses de humor, filosofia e romanticismo. Para escrever este tipo de minipoemas em prosa, se requer, além do poder de síntese e originalidade, a humildade e o detalhismo de quem se manifesta em pequenas doses. O gênero ficou esquecido pela mídia (mesmo em tempos do Twitter, que somente publica textos de duas linhas).

As 90 frases de Airton foram tomadas de seu blogue Autor Próximo, que arquiva suas colunas esportivas para o Diário da Manhã de Pelotas, e do Facebook, onde ele assina como Moi Aussi. Acompanhe-as a seguir, na mesma ordem em que foram publicadas. Sua produção continua saindo nesses dois sítios, onde ele comenta e ironiza sobre a política brasileira, o esporte, o amor, a existência e o comportamento humano (ele foi apresentado em 2009 no post Vida Norte, jornal pelotense).

O banho das nereidas (Pelotas)

As meninas dos nossos olhos nacionais prostituíram-se!

A virtude está no meio, / com a paixão de permeio!

Nunca vá de jegue a Brasília. Ele pode não retornar!

A dor da gente não sai no jornal... nem do coração!

As notícias violentas de hoje são as tragédias do ontem.

O silêncio dos coniventes / faz os governantes ausentes.

Deus é brasileiro, mas o diabo é dirigente oficial.

Atrás de um grande homem há sempre uma mulher ultrapassando-o.

No mundo de hoje se vê: o passado não tinha futuro!

A seriedade do voto da urna contrasta com a molecagem que outros fazem brotar dela, por quatro anos.

A vida é um livro finito, com palavras efêmeras.

Casa de passarinho (Porto Alegre)
Para tudo há um tempo, menos para as surpresas!

Ninguém volta no tempo, mas ele volta com as pessoas.

A Natureza é um espetáculo e o homem, seu cambista!

Os Humanos pensam ser.../ o que correm para obter.

No Natal, só Jesus recebe menos presentes do que merece.

Em cada homem julgado, a coletividade é mal perdoada.

Eleições: sai a Lei de Gerson e entra a Lei do Gesso!

A paixão cabe nas mãos; a saudade... em todo o corpo!

Mata-se antes a consciência e, após, os recursos naturais.

O povo tem memória: só não lhe dão explicações.

Se não há bê-á-bá, nem á-bê-cê, prolifera o blá-blá-blá.

Supositório popular: corrupção e voto obrigatório.

O grito da sociedade é um solfejo orquestrado e baixo.

Sim, Deus é para todos... mas a sorte não sabe disso!

Poupem-me da melhor idade, porque a terceira idade é um Tsunami, com epicentro no mar das farmácias.

O único olho do Rei furou. Nu, sempre esteve!

Como acordar ao teu lado, se não me deixas dormir?

Cartão Corporativo oculto do Lado Esquerdo do Pleito?

Novas causas não existem. O tempo as traz de volta!

Olhares (Curitiba)

O mundo prende seus loucos nos piores parlamentos.

Alguns brasileiros fazem de coração o que o Governo deveria fazer por obrigação: trabalhar em favor dos desassistidos.

O primeiro celular brasileiro foi um espelhinho europeu. O Arcabuz apenas pôs ordem na fila.

O Poder não precisa de conhecimentos. Portanto, não há surpresa quando os ignorantes mandam. Nivelam-se!

A Economia é uma ciência humana. Os humanos, porém, não sabem disto. Beber água não é saber nadar.

Deixe-se assaltar, deixe-se morrer, deixe que lhe enterrem indigente... ou vote e tenha um kit com tudo isto.

O povo nem reclama tanto de cartolas e dos políticos; apenas acha que eles não prestam... contas!

Um coração em chamas / é o que me resta quando me chamas.

Diplomas, Cartões de Crédito e Corporações não são licenças de fraudar. Mas depende de quem for utilizar.

Diplomas e pimentas só ardem nos olhos alheios, mas misturados deixam um caldo e tanto.

A politicagem federal movida por espetáculos de mídia fazem do país do futebol... um imenso urinol.

Jardim andante
Um sorriso de invulgar beleza é o que me serves... de sobremesa.

Euforia, picardia e verdades fabricadas por poucos... são cobradas em bolso alheio.

Quando o silêncio da sociedade faz barulho, um mau governo vira entulho.

De tanto pensar em sim e não, a razão se apaixona.

É duro ver a bandeira brasileira como um cheque em branco nas mãos dos privilegiados, e como um atabaque nas mãos dos explorados.

A unanimidade só é burra quando não é bem paga.

Ó, Pai, perdoa-os agora... porque já sabem o que fazem!

Olimpismo faz bem aos dedos, mas são os anéis que andam pelos cinco continentes.

Com o desarmamento do povo, só o Governo e os bandidos terão armas. A proporção é desconhecida.

O silêncio agora nem é mais dos inocentes, mas de todos os que ainda poderiam falar.

A história consagrou o pão e o circo. Aqui, no entanto, o circo já nasceu pronto e o governo nem lembra que falta o pão.

Para votar use seu irrisório saber. Os de notório saber, nem sabem de você.

Mariposas só precisam de Luz. Não se apaixone por crisálidas!

Às vezes, contemplar o nosso interior é sair pela vida!

Urnas são sapatinhos de cristal: elas vivem de sonhos descumpridos e eles já vêm quebrados. Sem recall!

Correndo atrás do prejuízo / também se perde o juízo.

Uma parede branca é pura expectativa para quem pinta.

No Brasil, a qualidade desaparece quando, com o nosso voto, as pessoas fazem arranjos e nós ficamos com o custo dos desarranjos.

Quando um não quer, dois não brigam, mas se alguém se meter morrem três.

Um, dois (Curitiba)

Ainda se pode viver bem. Basta esquecer o Passado, desprezar o Futuro e pagar muito pelo Presente!

O Brasil é o melhor lugar do mundo. Enquanto você se ufana, os estranhos e os nativos lhe afanam.

Seu lar e sua casa estão seguros. Os que estão à solta são os que lhe roubam e os que lhe obrigam à clausura.

Penso no que posso e no que devo, esqueço do que quero e do que preciso.

Toda vez que alguém vira especialista em alguma coisa, as demais coisas viram nada ou coisa nenhuma.

Governo é como namoro. Inicia com promessas e com beijos. Termina quando eles desaparecem.

Por melhor que seja a festa, há sempre quem falte.

Na janela, o mundo não mudou, nem o ano trocou de local e data.

A próxima obra grandiosa e superfaturada será o Farol da Liberdade?

Não pergunte ao Governo o que fará por você. Pergunte a quem lhe assalta. Com sorte, ele até responde.

Sem bolo e sem cereja, / somos nós as sobremesas.

Imagem de Pelotas
A paz tem muitos autores; / a violência, muitos atores.

O outono chegou e a vida ficou mais longa.

A vida é muito curta pra quem só conta o tempo!

A política é a arte do agora que se movimenta com celeridade, para inventar as artimanhas do futuro.

Quando a gente implica, / Freud explica.

Rir é o melhor remédio para quem faz a piada. Quem sofre nunca é consultado!

Dizer o que se diz, / nem sempre é ser feliz!

Mesmo com uvas verdes, todos os vinhos são maduros.

Por onde ando, a luz me procura, mas a sombra persegue meus pés!

Não é preciso tanto, nem pouco. Basta o essencial.

Eu ando muito bem, procurando a vida. Espero que ela me encontre.

Quando eu amo dói um pouco!

Urna eletrônica é máquina do tempo. Aperte uma vez e ganhe quatro anos, de imposto e vários desgostos.

Não fuja dos seus arrependimentos. Os prepotentes conseguem e se reeditam.

Eu sei que sou chato, mas já passei por baixo de sua porta.

No trânsito da cidade, os condutores estacionam quando recebem uma mensagem de celular. Seria ótimo, se não fosse... em fila dupla.

Para mau entendedor, frases ou orações inteiras são apenas desperdícios.

Deus é brasileiro, mas os coletores de impostos, não!

Boa memória e boas lembranças, juntas são imbatíveis.

Fuga (Pelotas)
Fotos: Marcelo F. Soares

2 comentários:

Unknown disse...

Caro amigo Vidal, um belo, enriquecedor e poético post. Parabéns! Parabéns, igualmente, ao autor dos epigramas, extremamente criativos.

Francisco Antônio Vidal disse...

Agradecido, em nome dos artistas destacados aqui, Airton e Marcelo. Hoje exploraremos as perguntas que Neruda não fez, mas que Manoel está fazendo.