terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Batucada no réquiem para o embaixador da cultura pelotense

A morte do músico popular Gilberto Amaro do Nascimento, conhecido como Giba Giba (v. notícia no Correio do Povo e em Zero Hora), está suscitando artigos de pesquisadores e jornalistas da área cultural.  O escritor Luiz Coronel escreveu Giba Giba, adeus. Leia abaixo a matéria de Carlos Cogoy, enviada por email a este blogue.

Giba exibe o troféu Zumbi dos Palmares, com Hélio
Fala circular, olhar atento sob as lentes escuras, mãos tamborilando o ar. Palavras inventando ritmos, visões da ancestralidade afro, toques de percussão universal. Frases desafiando utopias, imagens percutindo no peito, braços sorridentes. Versos cantando céu e chão, cores mirando o futuro, palmas batendo sons.

Voz negra do sul, avistando nomes e ruelas da infância, dedos entrelaçados com orixás. Dialeto sem fronteiras, um outro olhar, unhas arranhando tambores. Sílabas criando Cabobu, miragem na dignidade da cultura popular, abraços no cortejo da transformação.

Embaixador da cultura pelotense, Giba Giba prescindia da identificação. Já era “Griô”, reconhecido muito além dos bairros da cidade natal. Com sua morte, lembranças acerca da trajetória dedicada ao Carnaval, sonoridade afro-riograndense, prêmio Açorianos pelo disco “Outro um” [ouça trecho], resgate do instrumento de percussão “Sopapo” – projeto Cabobu, homenageando carnavalescos Cacaio, Boto e Bucha, com oficinas e apresentações em 1999 e 2000. Conselheiro de cultura no Estado, tema do “Unidos do Fragata” em 2002, campeã com “No toque do tambor, Ogum mandou Giba Giba aqui” (v. notícia com o samba-enredo).

Os amigos Mestre Batista, Cogoy e Giba Giba
Neste ano (2014), o compositor, instrumentista e intérprete, será lembrado na série “Visceral Brasil – as veias abertas da música”. Trata-se de projeto com treze documentários, e o Estado estará representado no episódio “No sopapo de Giba Giba” (v. notícia de 2013). A exibição será na TV Brasil, ainda no primeiro semestre.

Maria Helena Vargas da Silveira em 2009, Mestre Baptista em 2012, e nesta semana Giba Giba. Pelotenses negros talentosos. Autores também de uma outra arte. Além da criatividade e originalidade, destacaram-se pela generosidade. Militantes da solidariedade, imbuídos da necessidade de mudanças. Embaixadores de uma sutil subversão. A luta por dignidade num ritmo circular, o anseio por transformação numa ginga de céu e chão. Vozes sem fronteiras. Tambores calando charqueadas.
Carlos Cogoy


Giba Giba tem verbete na Wikipédia.
Fotos: C. Cogoy

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