terça-feira, 4 de junho de 2013

Artista ensina o modo naïf de pintar

Quadro naïf de Manoel Soares Magalhães, doado ao Instituto J. Simões Lopes Neto

O escritor e artista plástico Manoel Soares Magalhães ministrará Oficina de Arte Naïf, a arte ingênua ou primitiva. A oportunidade é única em Pelotas e no Estado, pois nunca antes se havia aberto um ateliê deste tipo de arte. Os encontros serão semanais, e as pessoas poderão ficar o tempo que desejarem, sem data pré-definida de término. A limitação estará no número de vagas.

Como facilitador dos encontros, Manoel anuncia que mostrará duas técnicas - em acrílica sobre tela - para representar a natureza mediante o modo naïf (ingênuo ou primitivo), que no Brasil tem pintores consagrados, como Heitor dos Prazeres e Waldomiro de Deus, mas poucos no Rio Grande do Sul. 

Ele mesmo se iniciou neste estilo com sua esposa, a artista Carmen Garrez. Assim ele descreve o sentido da oficina e deste tipo de arte:
Quando se é criança, lápis de cor, pincéis e tubinhos de tinta são armas preciosas para desvelar mundos de sonhos. Ficamos horas a fio pintando ou desenhando, entregues à imaginação. Na Oficina resgataremos a melhor parte de nossa existência, época em que construímos mundos, universos fantásticos, onde os peixes voam e os pássaros nadam, numa maravilhosa subversão de valores, de sentidos e etc.
Além de imaginar suas próprias composições, os alunos farão releituras de obras consagradas no gênero. Aprenderão a pintar de forma ingênua e descontraída, sem medo de errar, livres e espertos como as crianças. Poderão revisitar a infância, atraindo-a para o presente e descobrindo que a felicidade é a simplicidade do olhar. Espero vocês! Manoel S Magalhães
Em 2012, o artista expôs na sala da Sociedade Sigmund Freud, declarando que já não pintava, pois sua criatividade tinha enveredado pela cinematografia e pela literatura, outras formas de expressão mediante imagens. Seu talento multifacético, no entanto, encontrou saída pelo compartilhamento das técnicas aprendidas, o que é um relevante serviço às artes e à cultura. Isto quer dizer que sua "fase naïve" não se encerrou realmente, mas se transformou pela via do ensino. O aluno agora é instrutor e divlgador. Na época, este foi seu testemunho (v. nota):

Houve um instante em minha vida que resolvi pintar, provavelmente inspirado na atividade de minha esposa, Carmen Garrez, arquiteta e artista plástica. E foi na arte ingênua que encontrei o jeito de expressar o que desejava através dos pincéis, das tintas.
Fui buscar inspiração no casario pelotense, no universo escravagista da Pelotas do século XIX. Uma forma ingênua de olhar um passado sangrento, cuja atividade saladeril enriqueceu a Princesa do Sul graças ao trabalho do negro.
Foi um jorro violento, que se estendeu por um bom tempo. De súbito parou. A fonte secou? Talvez. Ou, quem sabe, a fonte resolveu transformar-se, levando-me a criar outras formas de expressão - textual, fotográfica e cinematográfica. Tal jeito de ser expressa a vida do artista, ser inquieto, que deseja quase sempre expressar-se, seja lá de que forma for. 
Ainda sobre a palavra francesa naïf, o Petit Larousse aponta que se trata de adjetivo masculino (do latim nativus), com o sentido de "natural, sem artifício". Como em francês "arte" é substantivo masculino, usa-se o adjetivo na forma l'art naïf. Em português, por outro lado, a arte é feminina e a concordância deveria ser - para manter esse gênero gramatical - "a arte naïve". 

Quadro naïf de Carmen Garrez (2004)
Imagens: M. S. Magalhães

POST DATA

5 junho 2013
Manoel Magalhães informou hoje (5) no blogue Cultive Ler que a oficina começará no Ateliê de Carmen Garrez (não mais no Espaço Daniel Bellora como havia sido anunciado). 
6 junho 2013
Hoje o início foi confirmado para segunda-feira 10 de junho (veja noticia).

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