quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Pesquisa descobriu a charqueada do Santa Bárbara

A RBS TV Pelotas publicou a matéria abaixo no blogue da redação (hoje pertencente à rede Globo) e no Jornal do Almoço de 21 de outubro de 2011 (o trecho aparece no final do vídeo). Transcrevi o texto e as fotos, e reescrevi as legendas.

A reportagem mostra uma equipe universitária pesquisando a senzala de uma antiga charqueada, que – de acordo a uma lista feita por João Simões Lopes Neto em 1912 para a Revista do 1º Centenário de Pelotas – foi a única que existiu às margens do Arroio Santa Bárbara. Hoje suas ruínas ficam no centro da cidade, mas na época a zona urbana terminava no arroio.

Estefânia Jaékel da Rosa, licenciada em História e então aluna do mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural (v. Lattes) preparava um estudo pioneiro no Brasil (leia o projeto Arqueologia da Escravidão no Sul do Brasil), que a levaria à dissertação "Paisagens Negras: Arqueologia da Escravidão nas Charqueadas de Pelotas" (UFPel, 2012). Hoje ela é pesquisadora em Arqueologia da Escravidão no LAMINA/UFPel. 

Esta casa em ruínas foi a senzala de uma charqueada no século XIX.
Fica na Barão de Santa Tecla entre Conde de Porto Alegre e João Manoel

Charqueada no centro de Pelotas é redescoberta

Por Antonio Peixoto, com imagens de Jeferson Kickhöfel

Um trabalho lento e minucioso. Centímetro por centímetro de terra é escavado e vai revelando fragmentos de uma história rica e sofrida. É bem possível que os escombros dessa construção tenham sido de uma senzala que chegou a abrigar 61 escravos em 1854. Pesquisadores e 15 estudantes de cinco cursos da Universidade Federal de Pelotas procuram indícios que mostrem a presença de negros na propriedade.
A senzala estudada faria parte do complexo de uma grande charqueada, sem nome, localizada hoje no centro de Pelotas, que foi esquecida no tempo. A propriedade ficava às margens do arroio Santa Bárbara, que foi aterrado e desviado na década de 1970. O arroio cortava parte do centro da cidade, mas hoje restam apenas indícios dele, com a área próxima ao casarão que facilmente fica alagada em dias de chuva.

Estefânia Jaekel, pesquisadora e mestranda da UFPel
Arqueóloga e historiadora, Estefânia Jaekel pesquisou, para o trabalho final do mestrado na UFPel, as origens da propriedade e descobriu que a casa foi construída numa área de sesmaria doada pelo Império a um estancieiro em 1790.
 A charqueada foi vendida e as terras divididas até que em 1865 teria falido. Foi comprada 13 anos mais tarde por João Simões Lopes, conhecido como o Visconde da Graça  revela a pesquisadora.
Do tempo em que a carne era salgada pelas mãos dos escravos restou pouca coisa. Para o geofísico da Universidade de São Paulo (USP) Gelvan Hartmann, que veio a Pelotas colaborar com os estudos e complementar seu trabalho de pós-doutorado, os objetos é que contarão com exatidão detalhes dessa história.

– Coletamos 12 amostras de tijolos do chão e 12 amostas da parede que devem contar momentos diferentes do casarão, já que ele teria passado por uma ampliação  detalha o geofísico.
Serão necessários 15 anos de mapeamento, testes e muita pesquisa para remontar toda essa história ainda desconhecida. Por enquanto o local está batizado: Charqueada Santa Bárbara.
Google Maps
Charqueada ficava à beira do Santa Bárbara, que passava pelo que seria a rua Santos Dumont

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