domingo, 7 de agosto de 2011

Monquelat, pesquisador de livros e de histórias

O livreiro Adão Fernando Monquelat ficou nacionalmente conhecido em 1992, quando - graças a suas pesquisas - foi reeditado o primeiro romance gaúcho (e segundo no Brasil), "A Divina Pastora", de José Antônio do Vale Caldre e Fião, originalmente publicado em 1847 (abaixo, a capa de 1992).

Foi ele quem localizou em Montevidéu o único exemplar até hoje conhecido desse livro. O nome de Monquelat está na Wikipédia (v. A Divina Pastora) e num artigo de Paulo Monteiro, escrito em 2005 (leia).

Suas atuais pesquisas focam nas origens da nossa cidade, e são publicadas no blogue O Povoamento de Pelotas, junto ao professor Valdinei Marcolla.

Em 2010, a jornalista Daniela Xu o descreveu como um "fazedor de amigos e de livros", em entrevista publicada no blogue Desgarrados de Satolep (sobre pelotenses afastados do rebanho).


Há 30 anos, Monquelat abriu no centro de Pelotas um sebo que de início se chamava Livraria Lobo da Costa. À jornalista ele explicou o motivo da mudança de nome para Livraria Monquelat. Leia a seguir parte da entrevista (veja o post completo). Ali na Rua General Teles 558, o livreiro recebe amigos e outros pesquisadores para compartilhar o chimarrão e muita conversa.


— Monquelat, quando começou essa paixão pelos livros?

— Com os gibis. Iniciei uma coleção na década de 40 e 50. Tinha como heróis o Super-Homem, Durango Kid, Zorro, Kid Limonada e Kid Colt. Guardava-os em caixas de madeira que antes armazenavam champanhes Georges Aubert e Michelon. Eram todos cadastrados e valeriam uma fortuna hoje.

— O que aconteceu com os gibis?

Minha mãe colocou fogo na coleção quando tomei bomba em uma prova de Latim. Meus heróis viraram cinzas. A partir daí começou meu interesse pela literatura.

— Por que abriste um sebo?

Por necessidade própria. Na época, Pelotas tinha apenas um sebo mas, sem catalogação, sem organização, era muito difícil a procura por um exemplar específico. Também porque sou fascinado por sebos, tenho um gosto pessoal de frequentá-los. É algo que sempre me fascina.

— A Livraria Monquelat sempre teve esse nome?

Não. O primeiro nome era Lobo da Costa mas, como ficava na rua Dom Pedro II sempre me perguntavam por que o nome da livraria não tinha o mesmo nome da rua. Cansado de explicar que era por causa de uma predileção pelo poeta pelotense [Francisco Lobo da Costa] troquei o nome para Monquelat. Também foi na mesma época do lançamento de A Divina Pastora. Dois fatores que me fizeram optar pela troca do nome.

— Além de livreiro tens fama de escritor, e dos bons. Quais são tuas obras publicadas?

Novos Textos Simonianos; Maiêutica; Fóquiu & Company; Antologia Poética e Alguma Prosa, sobre Lobo da Costa; Coletâneas e Notas Bibliográficas de Poetas Pelotenses, de 1804 a 1864; Notas à Margem da História da Escravidão; O Desbravamento do Sul e a Ocupação Castelhana. E a mais recente publicação é em 2010, pela Editora e Gráfica da UFPEL: "Senhores da Carne: Charqueadores, Saladeristas y Esclavistas".

— Já te sentiste um Desgarrado de Satolep?

Não, nunca! Me considero um cidadão do mundo. Quem está no mato não consegue ver as árvores. É preciso sair da cidade para conseguir ver as árvores. Na rotina tu te perdes. Morei em Curitiba, em São Paulo e Porto Alegre. Se hoje tivesse que fazer a opção de sair, eu iria para Montevidéu, no Uruguai. Visito a cidade há 41 anos. Me sinto em casa lá, já poderia ser jubilado.
Foto: D. Xu

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Monquelat, simoneano de primeira hora,amante de sebos. Lugares mágicos, aonde as inteligências se embriagam com livros antigos, outros nem tanto. Sempre envolventes. Quem nunca se perdeu, literalmente, num sebo, não entende o que é prazer!!! Se a sociedade doente em que vivemos, levasse seus filhos a sebos e bibliotecas, em vez de achar normal vê-los assistir BBBs, Fazendas, e outros shows de quinta classe, certamente a família estaria mais sólida e ilustrada. Um povo que lê, compreende, expande sua visão de mundo. Consequentemente ...
Conheço os melhores sebos do país, é o que imagino ser o mais próximo do paraíso. Acordem "mentores da educação no Brasil", tirem seus alunos da classe, levem-nos às bibliotecas e sebos. Semear conhecimentos tornar-se-á muito, muito mais fácil. Abraço fraterno a ti, caro Monquelat e aos sebistas deste e de quaisquer outros planetas! Prof.ª Loiva Hartmann