domingo, 23 de janeiro de 2011

Zum Zum, avó das sorveterias de Pelotas

Em 1972, um comerciante uruguaio abriu uma sorveteria que marcou novo estilo em Pelotas: fabricava e vendia sua produção, trazia combinações imaginativas de sabores e oferecia umas 30 variedades, mais do que qualquer sorveteria brasileira. Na época, ainda não se conhecia o hoje onipresente self-service ou buffet; os sorvetes eram servidos somente no balcão.

Apesar de que os pelotenses preferem os tradicionais docinhos e o clima frio não facilita a venda de sorvete, a nova loja foi aceita como um ponto de encontro da juventude e das famílias.

Quanto ao nome, a onomatopeia de zumbido não foi compreendida (abelhas gostam de mel; não de gelo), mas deu certo pelo sentido social, o zunzum das conversas. Com o tempo, novas sorveterias surgiram, com os mesmos elementos à europeia, trazidos pelos castelhanos.

Quase 40 anos depois, o sorvete da Zum Zum conserva as suas marcas mais perceptíveis: a contextura cremosa e o sabor açucarado.

Apesar de algumas variedades terem sido descartadas por baixas vendas, ainda saboreamos algumas que chegaram para ficar, como leite condensado, doce de leite — a famosa especialidade platense do dulce de leche — e rum com passas.
  • O sambayon — mistura de sabayon (forma francesa de zabaione) e "sambaião", que é uma receita musical brasileira — ainda é bem aceito, pela gostosa mescla de vinho, gemas e lascas de chocolate.
  • Chocolate com menta esteve na Zum Zum mas não pegou entre nós, apesar do sabor profundo e até do aroma que exalava.
  • O sorvete de café é outra variedade que europeus e castelhanos gostam, mas que os brasileiros - inexplicavelmente - não aprovaram.

É de se destacar a oferta de seis sabores dietéticos (esq.), feitos com adoçante artificial. Para quem pode abusar da saúde — pois o sorvete já contém gordura e açúcar — há vários complementos da mais marcante doçura, como bombons, cremes, musses, confeitos granulados, fios de ovos, chocolate em calda e doce de leite puro.

A melhor opção é deixar esses adornos de lado, pois desvirtuam o sabor do sorvete artesanal e aumentam o preço na balança. Se houvesse tipos de biscoitos, wafers e bolachas, ajudaria na digestão, mas os acompanhamentos coloridos atendem mais aos olhos do que a uma satisfação real.

A fórmula de negócio da Zum Zum se baseia em duas raízes do tradicionalismo: culto ao pioneirismo e persistência no tempo. Concentrando-se em agradar ao consumidor, obtém suficientes lucros no verão que lhe permitem fechar a casa nos meses de inverno. O lado menos desenvolvido é a criatividade. Uma possível ideia promocional - coerente com o tradicionalismo - seria relacionar os 40 anos da sorveteria com os 200 anos de Pelotas, mas, dado esse esquema fleumático, o fato não será aludido ou comemorado em 2012.

Nos anos 80, a febre dos bufês de sorvetes que inundou o Brasil deu um impulso a este tipo de negócio. A Zum Zum adotou o bufê de balança, sem mudar o seu estilo (somente renovou o aspecto interno da loja).

Se diversificasse a oferta, ampliasse o espaço ou melhorasse o antigo visual (dir.), a empresa ainda poderia enfrentar o “frio” interesse pelotense pelo alimento gelado. No entanto, a Zum Zum aposta basicamente na boa qualidade e na ultraespecialização: sorvete e nada mais.

Para os clientes que preferem não servir-se (e pagar um pouco menos) há atendimento em balcão a preços fixos para a casquinha, o cascão e dois tamanhos de copos descartáveis (veja os preços na foto abaixo). O copão comestível (foto 2) vai somente na balança (hoje, o preço é R$ 2,59 cada 100 gr).

A avó de nossas sorveterias ainda abriu duas filiais em Pelotas, buscando o habitat de seu consumidor, o de mais alto poder aquisitivo. Mas, no fim das contas, o público pelotense só entra nas sorveterias quando faz muito calor e elas passam a maior parte do tempo vazias.

A sorveteria Zum Zum funciona - desde 1972 - na Rua Quinze de Novembro 624, todos os dias de calor, de setembro a abril, aprox. de 12h a 22h. As filiais ficam na Av. Bento Gonçalves 3407 (o chamado Shopping Lobão) e na Av. Antônio Augusto Assumpção 8953 (Laranjal).

O artigo acima saiu no Amigos de Pelotas há dois anos, com o título A pioneira dos gelados que aquecem o verão (leia os comentários) e foi modificado para esta publicação. As fotos foram tomadas terça-feira (18).

Fotos de F. A. Vidal

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que a sorveteria fechou. Estive na cidade em maio/23 e a encontrei fechada, embora fosse início da noite. Uma lástima, lembro muito do sorvete de doce de leite nos idos anos 80, quando fazia faculdade em Pelotas.