segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gatos guardam o velho casarão

Enquanto o antigo casarão da família Maciel espera as restaurações prometidas, os gatos ocupam o território abandonado pelos humanos. O prédio é conhecido pelo nº 8, sua numeração ante a Praça Coronel Pedro Osório.

Alheios e desinformados das intervenções que a Universidade Federal planeja para esta recente aquisição do patrimônio, os habitantes passeiam dia e noite, sem Deus nem lei, pelo palacete que há um século alojou senhores e escravos.

Sem saber ler as placas, eles não desconfiam que este mesmo prédio foi inaugurado há 130 anos, em 7 de setembro de 1880, para residência do Conselheiro Francisco Antunes Maciel, o Barão de Cacequi, primeiro diretor do Liceu de Agronomia ( fundado este em 1887 e depois batizado com o nome de Eliseu Antunes Maciel, pai de Francisco).

Os felinos do século XIX seriam mascotes dos dominadores, ou dos sofredores? Os gatos e gatas se aliavam a alguns somente, ou a todos sem distinção, ou a ninguém? Ou, muito pelo contrário, teriam espírito imparcial, observador das vicissitudes humanas?

A propriedade seguiu em mãos da família Maciel até dezembro de 2006, quando passou à UFPel, segundo anota o Dicionário de História de Pelotas (Loner, Gill e Magalhães, 2010). Desde então existe a ideia de ali se formar um centro cultural ou coisa parecida, mas a estrutura segue degradando-se, mesmo com uma restauração aprovada (leia).

As complicações foram denunciadas pelo Amigos de Pelotas em 2008 (leia nota), que o apelidou Casa dos Espíritos, em alusão ao livro de Isabel Allende, sobre uma família que teve importância política, mas que deixou um casarão em ruínas, cheio de fantasmas históricos, nunca bem decifrados.

Sobre a ocupação dos casarões pelos gatos, o escritor Manoel Magalhães escreveu em julho passado a crônica A nobreza que anda de quatro.

A foto desta nota foi tomada na tarde quente e úmida deste sábado (11). As hortênsias pareciam bem cuidadas, mas o preto guardião não soube o que pensar, pois ali já não se veem humanos, nem trabalhadores braçais, nem pesquisadores, nem amos senhoriais.
Foto de F. A. Vidal

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