domingo, 13 de junho de 2010

Paço Municipal

O Paço Municipal foi construído em 1881, originalmente para ser a Câmara Municipal. Naquele ano, o governante de Pelotas era Leopoldo Antunes Maciel (veja post sobre os ex-prefeitos). Na época imperial, o sistema era parlamentarista e o chefe municipal era o mesmo presidente da Câmara.

Sob o presidencialismo, os intendentes (época republicana) e prefeitos (pós 1933) ocuparam o Paço (ou "palácio") e os vereadores têm estado desde então peregrinando em busca de uma sede permanente, que já está escolhida, mas não habilitada; é o prédio defronte ao Paço, construído originalmente pelo Banco do Brasil.

Fato curioso, o prédio da Prefeitura foi projetado pelo engenheiro pelotense Romualdo de Abreu e Silva, o mesmo aludido por João Simões Lopes Neto em "Casos do Romualdo" (leia na Wikipédia).

A foto abaixo foi tomada por Brisolara na década de 1920. Ela aparece no livro "Satolep", junto ao texto de ficção de Vitor Ramil.

Em frente ao Palácio Municipal um homem procura emprego, sem perceber que seus sapatos furados acusam encaixes perfeitos de paralelepípedos lustrosos;

um médico se atrapalha com a lembrança da paciente morta em suas mãos, sem dirigir o rosto às estátuas, platibandas e frontões que por seus olhos erguem-se ao redor;

um fumante preso a uma bagana quebra juramento de último cigarro, sem notar a brisa perfumada de soja e jasmim que lhe roça o nariz;

um funcionário público, lotado na Secretaria de Finanças desta cidade que lhe dá tudo, sente-se lesado;

um relojoeiro de passadas largas deixa-se premir pelo tempo e sofre por isso, mostrando-se incapaz de aprender a lição das extremosas, que vagueiam livremente através de suas sombras lentas;

dois guris transformam-se em balaústres, tendo espaço para serem velozes charreteiros alados;

duas mulheres, uma delas a ralhar com uma criança, julgam-se elegantes e reservadas debaixo de cerimoniosas sombrinhas, estando expostas como cogumelos sinistros ao sol ameno deste veranico fora de estação;

um padre de chapelão se enternece com a visão de um papeleiro negro que se enternece com a visão de um padre de chapelão.

De todos esses cidadãos, eu, sentado no alto meio-fio, sou o único tido como alienado; eu, que respeitosamente espero a neblina e o ruflar do entardecer nos pássaros, para abençoar a todos, aconchegar-me à porta do Palácio e dormir.

Satolep, Vitor Ramil.
Cosac Naify, 2008, p. 19.

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