segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Corredor Arte, 9 anos unindo arte e saúde

Ângela Vargas, Ana Lúcia Brod, Helena Schwonke e Artur Leão (acima) são a atual equipe da agência Completa Comunicação, que entre outros projetos publicitários administra o Corredor Arte, a galeria de arte do Hospital da UFPel.

Foi em setembro de 2000 que o Departamento de Comunicação do Hospital e o Instituto de Letras e Artes conceberam o Corredor Arte, como parte do projeto Arte e Saúde do ILA. Sua base teórica e prática estava no valor terapêutico da arte, já estudado pela ciência, e que outros hospitais de Pelotas mais tarde também utilizariam.

Nestes anos, todas as pessoas mudaram, o ILA mudou de nome para Instituto de Artes e Design, o Departamento de Comunicação foi redefinido pela Universidade (passando a funcionar como agência de comunicação) e o próprio IAD abandonou o projeto, deixando-o nas mãos do Hospital. Mas o Corredor Arte continua de pé, com agenda lotada todo o ano, alternando trabalhos de artistas plásticos iniciantes ou renomados, de alunos de arte, de oficinas de CAPS e até mesmo das crianças internadas na pediatria do Hospital.

O que há 9 anos foi visto como uma ousadia - integrar a saúde mental e a socialização da arte - já é reconhecido como parte do dia-a-dia do Hospital, por funcionários, pacientes e visitantes. Além do aspecto terapêutico, outros objetivos são alcançados: a arte é popularizada em suas diversas expressões, os nomes dos artistas são conhecidos pelo público e algumas obras são vendidas ao público ou doadas ao Hospital (por ex., o Cristo à direita e a Virgem abaixo).

Uma das vantagens específicas de uma galeria de arte num corredor de hospital é que ela pode ser vista por pessoas que normalmente não iriam a um museu e se veem gratamente surpreendidas pela arte. Outra vantagem é que as obras estão expostas manhã, tarde e noite, sem custos adicionais de manutenção, todos os dias do ano. Os artistas buscam este espaço para expor, sabendo de suas características especiais, e trazem sempre obras inéditas, criadas especialmente para serem expostas aqui.

Bem no dia deste 9º aniversário (18-09-09), numa feliz conjunção de noves, abria coincidentemente a mostra nº 200. Cada uma dessas séries esteve exposta em ciclos quinzenais. Avaliando esse tempo como muito breve para o ritmo do Hospital, a coordenadora, Ana Lúcia, decidiu prolongá-lo para 21 dias. Desde dezembro próximo, o público terá mais uma semana para apreciar as obras, os artistas para divulgá-las ou vendê-las, e a montagem será feita com mais calma.

A mostra nº 100 abriu em 16 de setembro de 2005, com obras do MAPP (Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas), que em junho desse ano também completara 5 anos.

Na ocasião, o professor de arte José Pellegrin fez uma reflexão sobre a essência do Corredor Arte. Situado numa passagem ou "não-lugar", o projeto desfaz o conceito do que seja um "lugar para a arte". Por outro lado, a tensão que o artista sente ao criar reencontra-se com o sofrimento do espectador que passa. Essa conjunção de lugar e passagem, de tensão e resolução, contribuem ao efeito especial deste projeto.

Sobre a terapia pela arte, a psicóloga Nina Rosa Paixão salienta que o Corredor abre um ambiente propício à recuperação da saúde. Significando a internação hospitalar uma crise pessoal para o paciente, às vezes com uma doença grave e afastado de sua vida normal, assim também os acompanhantes e visitantes vivenciam essa situação de angústia, ante do sofrimento de algum ente querido. Segundo a psicóloga, quanto mais humanizado e acolhedor o ambiente, mais facilmente se restabelecerá a saúde da pessoa internada e a tranquilidade de seus familiares.

Numa enquete de opinião sobre o Corredor Arte, uma paciente de quimioterapia relatou: “Eu paro na frente de um quadro, entro nele e me esqueço de todas as dores, das impossibilidades, é como se eu fosse pra outro mundo. Eu vou pra outro mundo".

Outra paciente da Clínica Médica disse que neste espaço ela sentia uma descontração até para “deixar as limitações de lado por alguns instantes".

Um privilégio do Corredor é ser feito num Hospital que conta com um departamento próprio de comunicação. Isto se constitui num luxo, pois permite consolidar a mística e a sensibilidade que envolvem este espaço. A estagiária de Comunicação, Helena, elabora relatórios periódicos para a imprensa, com dados do artista e imagens das obras, num trabalho que só é comparável, em Pelotas, à Galeria de Arte da UCPel.

O texto abaixo é de Ana Lúcia, a coordenadora há seis anos, e foi publicado dia 19 no Diário Popular (site e jornal).

A arte não para no Hospital Escola
Dia de trocar a exposição: um artista chega para buscar as obras que habitaram por 15 dias este hospital. Outro artista traz o produto de seu trabalho, com grande expectativa. Na portaria, é um entra-e-sai de cores e formas, tão diferentes e únicas quanto são os seres humanos.

Para a montagem da exposição, buscamos equilibrar as obras por temas, por cores, por dimensão, em um espaço que é de passagem para pacientes, acompanhantes, trabalhadores da saúde, estudantes e visitantes.

Mas o que seria somente um corredor de passagem dos sentimentos que mais se fazem presentes neste ambiente - como angústia, tristeza, dor, medo - passa a ser, com a arte, um corredor de alegria, de vibração, de esperança, de vida.

É quase impossível transitar pelo corredor sem deter o olhar, nem que seja, por ínfimos segundos, em um quadro ali exposto. Nesse instante, até mesmo de forma inconsciente, a mente viaja, descansa e muda o foco.

Com o Corredor Arte se estabelece uma relação em que todos ganham:
O artista, além de um espaço para mostrar sua obra, e até mesmo comercializá-la, exerce um papel social, ao contribuir de forma significativa para a melhoria do ambiente de um hospital totalmente destinado ao SUS.
O público - que muitas vezes não tem oportunidade de entrar em contato com manifestações artísticas em outros locais - pode sempre apreciar pinturas, desenhos, fotografias, gravuras, entre outras.
E, finalmente, o Hospital Escola, que em sintonia com o que preconiza a Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde - há nove anos, completados neste 18 de setembro - transforma um corredor de entrada, através da arte, em um espaço de idéias, percepções e emoções.

Ana Lucia Treptow Brod
Coord. de Comunicação do Hospital Escola UFPel/FAU
Imagens: Corredor Arte (1 e 8) e F. A. Vidal (2-7)

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