segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Escola de "Design" em "redesenho"

O prédio antigo da Escola de Belas Artes de Pelotas, batizado com o nome de sua benfeitora Carmen Trápaga Simões, mostrava esta sexta-feira (28) uma cara nova, já quase totalmente disposta a uma nova fase de funcionamento como sede universitária. Há dois meses, as obras estavam em andamento (veja o post).

A EBA foi fundada em 1949 e esteve anos em busca de uma sede permanente. Em 1960 a mudança estava pronta, para a antiga Escola de Agronomia, com apoio do Prefeito João Carlos Gastal, mas o Ministério da Agricultura impediu a ocupação, por ser um prédio federal (sendo que a Escola era particular). Paradoxalmente, a Escola passou a ser federal em 1969 (tomando o nome de Instituto de Artes) mas aquela sede, atrás da Prefeitura, já havia sido usada para outros fins.

Finalmente, em 1963 dona Carmen doa sua própria casa para este fim (herança da família Trápaga) e em 1967 a nova sede adota seu nome, passando anos depois a ser parte do patrimônio universitário (federal). A recuperação desta casa coincide com os 40 anos da Universidade e os 60 anos da Escola (veja um post no Amigos de Pelotas).

A placa na fachada (dir.) confirma o anunciado pelo reitor, no sentido de retomar o nome da Escola, ainda que as estruturas universitárias tenham mudado.

O barbarismo linguístico

Hoje a unidade da UFPel tem a denominação ultramoderna de Instituto de Artes e Design. Esta expressão híbrida é sintoma de como o inglês penetra nas culturas nacionais, especialmente onde o povo desconhece seu próprio idioma. O espanhol conserva diseño para referir-se aos dois conceitos, sem necessidade do estrangeirismo.

Para distinguir-se do simplório e antiquado "desenho", instaurou-se o "design". Até em Portugal se nota o fenômeno, incorporado pelo moderno IADE (Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing).

Ao mesmo tempo, o site do I.A.D. de Pelotas não se encontra em reformulação ou em redesenho, mas em redesign.

A pronúncia híbrida

Em inglês a pronúncia é di-záin, mas a fala gaúcha tem sua particularidade, resultando esta fantasia fonética: dê-záin.

E como fica o redesign? Em Pelotas e arredores: rê-dê-záin, mas o certo seria ri-di-záin (veja).

A língua inglesa também copia do latim, como nós do inglês, mas em nosso autodesconhecimento engolimos tudo o que vem do estrangeiro: palavra, significado e pronúncia.

Teste, copiado do inglês test, por sua vez foi tomado do latim teste, que significa "prova".
Mídia, copiado do inglês media, é puro latim (plural de medium, "meio").
Site, sinônimo de nosso "sítio", que se apoia no latim situ.
Premium, apelido comercial que nos chega com pronúncia inglesa (prí-miam), mais elegante que "Prêmio".
Em cada caso, a nova palavra já ganhou seu espaço e passou a ter novo significado.

O premium de nossa macaquice fica com o programa computacional Windows XP, que rejeita toda tradução, e não pode ser assimilado por quem não sabe inglês, mesmo com boa vontade. O produto comercial foi batizado com duas letras misteriosas para nós (XP, écs-pí) para relacioná-lo com uma nova experience (écs-pírians), a Experiência Windows, ou Sensação das Janelas.

Mas o brasileiro somente pode dizer xis-pê. Até porque confundimos experiência (sentimento) com experimento (ensaio). Esses produtos comerciais são de curta vida, mas o fenômeno da imitação sem razão seguirá vigente, enquanto não fizermos o redesign de nossa self experience.
Imagens: F. A. Vidal (1-2)

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